A eleição mais polarizada desde 1985
No 1º turno, Fruet venceu no norte de
Curitiba e Ratinho Jr., no sul. Divisão como essa só havia ocorrido na
disputa de Requião com Lerner, há 27 anos
14/10/2012 | 00:13 | Rosana Félix
Desde
a redemocratização, apenas a eleição de 1985 teve uma polarização tão
forte na corrida pela prefeitura de Curitiba como a que ocorreu no
domingo passado. Naquele ano, em que havia apenas um turno, Roberto
Requião (PMDB) foi vencedor no sul da cidade e Jaime Lerner, na região
norte. O mesmo ocorreu agora, com Ratinho Jr. (PSC) e Gustavo Fruet (PDT),
respectivamente. A diferença é que esta eleição será decidida no 2.º
turno, o que exige que os candidatos se aventurem pelo “território” do
adversário.
No 1.º turno, o candidato do PSC fez 332.408 votos,
dos quais metade (52%) nas zonas eleitorais 145.ª, 174.ª, 175.ª e 176.ª.
Os bairros que compõem essas regiões têm renda familiar média variando
de R$ 700 a R$ 1,5 mil. Além disso, a maioria dos eleitores tem apenas o
ensino médio completo e os menores índices de conclusão de ensino
superior. A maior diferença de Ratinho sobre Fruet ocorreu na 175.ª zona
(imediações do Pinheirinho e Sítio Cercado). Nessa região, Ratinho teve
48,1% dos votos válidos. Fruet ficou somente em 3.º, com 17%.
Segundo turno
Fruet dará mais atenção ao sul; Ratinho Jr. não mudará estratégiaApesar de ter ficado com índices que variaram entre 18% e 26,3% dos votos válidos nas zonas eleitorais ao norte de Curitiba, a campanha de Ratinho Jr. afirmou à reportagem que a votação dele nessa região foi “satisfatória”. Em e-mail enviado à reportagem, a equipe informou que serão mantidas as atividades normais de campanha.
A diferença estará no programa eleitoral, de 20 minutos diários – no primeiro turno ele tinha aproximadamente 3 minutos, em dias intercalados. “Os programas permitirão aprofundar as propostas. Assim, Ratinho Jr. espera chegar mais suficientemente ao eleitor da região norte e das demais regiões da cidade, possibilitando que ele julgue as propostas apresentadas”, informou a assessoria.
Para Gustavo Fruet, o eleitor da região sul ainda não o conhece bem. “Na eleição de 2010, na disputa por cadeira no Senado, a votação na região sul também foi menos expressiva do que nas outras regiões da cidade. Isso comprova que o eleitor do sul ainda não conhece nossa trajetória e nossas propostas. Esse quadro será alterado neste segundo turno”, disse Fruet, em entrevista feita por e-mail. Ele pretende aumentar a presença nesta região, com “caminhadas, distribuição de material e movimentação de lideranças”. Na segunda-feira passada, o candidato esteve no Sítio Cercado, um dos bairros mais populosos do sul de Curitiba.
Candidatos têm votos em toda Curitiba
Apesar da maior concentração de eleitores no sul ou no norte, Ratinho Jr. e Fruet tiveram expressiva votação no “reduto” do adversárioLeia a matéria completa.
Fruet conquistou 265.451 votos em 7 de outubro, dos quais 44%
nas zonas 1.ª, 2.ª, 177.ª e 178.ª. Os bairros dessas regiões têm
famílias com renda média que varia de R$ 800 a R$ 3,5 mil. Também
apresentam maior nível de escolaridade: de 35,2% a 49,5% do eleitorado
concluiu o ensino superior. A maior diferença de votos entre o candidato
do PSC e o pedetista ocorreu na 178.ª zona (que inclui uma faixa entre o
Centro e Santa Felicidade). Fruet fez 34,5% e Ratinho ficou em 3.º, com
23,4%.
A retrospectiva das últimas eleições mostra como a polarização atual é
forte. Em 1985, quando Curitiba tinha apenas cinco zonas eleitorais,
Requião venceu na 3.ª e 145.ª. Lerner, na 1.ª, 2.ª e 4.ª. Em 1988, 1992 e
1996, as disputas pela prefeitura de Curitiba foram decididas no
primeiro turno com grande vantagem para o primeiro colocado e vitória
dele em quase todas as zonas eleitorais. No primeiro turno de 2000,
Cassio Taniguchi ganhou de Angelo Vanhoni em todas as zonas, apesar da
votação do petista ter forçado o segundo turno. Em 2004, Beto Richa e
Vanhoni também se revezaram na liderança de algumas zonas, mas o tucano
ganhou na 3.ª e na 174.ª. Em 2008, Richa se reelegeu com vitória em
todas as regiões.
Segundo especialistas, o mais indicado é tentar avançar nas regiões
onde o candidato não fez tantos votos. “Fruet precisa se popularizar nas
regiões mais pobres e Ratinho Jr. precisa vencer o preconceito da
classe média e alta para avançar nas regiões mais nobres”, observa
Emerson Cervi, cientista político da UFPR.
Segundo Geraldo Tadeu Monteiro, diretor-executivo do Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), é normal que no
primeiro turno os candidatos se dediquem a conquistar o voto de sua
base, ou da região onde tem mais potencial. “Mas no segundo turno é
preciso buscar votos de maneira ampla. Ratinho fez 34% e Fruet 27%. Para
ser vencedor, é preciso ter 50% mais um dos votos. Inevitavelmente
terão de buscar votos em outras áreas para ganhar.”
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