quarta-feira, 11 de julho de 2012

Da Gazeta do Povo

Senado cassa mandato de Demóstenes Torres

Quarta-feira, 11/07/2012
Geraldo Magela/Agência Senado
Geraldo Magela/Agência Senado / O senador acompanhou a sessão, no Plenário do Senado, ao lado de seu advogado
 
senador acompanhou a sessão, no Plenário do Senado, ao lado de seu advogado
Brasília

Ele perdeu o mandato sob acusação de envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Cassação foi aprovada com 56 votos favoráveis e 19 contrários
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11/07/2012 | 10:01 | Gazeta do Povo, com agências atualizado em 11/07/2012 às 13:43
O Senado Federal cassou, no início da tarde desta quarta-feira (11), o mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido - GO), acusado de envolvimento com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e de mentir em plenário. A cassação foi aprovada com 56 votos favoráveis e 19 contrários, além de 5 abstenções. Eram necessários 41 votos para a cassação. A votação foi secreta.
Ele se tornou o segundo parlamentar, em 188 anos de história, a ser excluído da Casa pelos próprios colegas e ficará inelegível até 2027 (oito após o término da legislatura para o qual foi eleito), quando terá 66 anos. Até hoje, o Senado só havia cassado o mandato de Luiz Estevão (DF), em 2000, no escândalo de desvio de recursos das obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.

O registro dos votos, feito no painel eletrônico do Senado, ocorreu após exposição dos relatores do Conselho de Ética e da Comissão de Constituição e Justiça, dos senadores que pediram a palavra e do acusador, senador Randolfe Rodrigues (AP), que representou o PSol, partido autor da ação que pedia a cassação. Demóstenes e advogado dele também usaram a palavra, para se defender das acusações.
Enquete publicada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo com 76 dos 81 senadores em exercício mostrou que 52 deles eram favoráveis à cassação. Outros 24 não quiseram se manifestar. Nenhum dos entrevistados disse que votaria pela absolvição.
Há duas semanas, a Gazeta do Povo ouviu os três senadores paranaenses sobre o caso. Alvaro Dias (PSDB), Sérgio Souza (PMDB) e Roberto Requião (PMDB) declararam que iriam votar pela cassação.
Um dos principais líderes da chamada "bancada ética" do Senado, Demóstenes foi flagrado em escutas pela Polícia Federal em situações que sugerem o uso do cargo em benefício do suposto esquema criminoso comandado por Carlinhos Cachoeira.
Além disso, é acusado de ter mentido em plenário quando disse que somente mantinha relação de amizade com o empresário.
Discursos
Na sessão que definiu a cassação de Demóstenes, senadores afirmaram que a decisão representa a moralidade da instituição.
Mesmo afirmando que vivem um "momento triste" por julgar um colega, os parlamentares afirmaram que a conduta ética de um senador deve nortear o seu mandato.
"Hoje é um dia de moralidade, sim. Mas o país sabe que aqui não tem moralidade. O Brasil inteiro sabe que não existe Senado, que não existe Câmara neste país. E deve estar dizendo: me engana, que eu gosto", disse o senador Mário Couto (PSDB-PA).
O tucano fez os ataques mais duros a Demóstenes ao afirmar que a voz nas gravações da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, é do parlamentar. E que sua conduta frustrou os colegas senadores.

Suplente de Demóstenes Torres omitiu bens ao TSE
Em vias de assumir o mandato de senador, após a cassação de Demóstenes, o primeiro suplente Wilder Pedro de Morais (DEM-GO) omitiu boa parte de seus bens na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Wilder é um dos empresários mais ricos de Goiás e foi o segundo maior doador da campanha de Demóstenes em 2010, com R$ 700 mil repassados oficialmente por meio de duas de suas empreiteiras.
Registros da Junta Comercial de Goiás mostram que Wilder é sócio-proprietário de 24 empresas. Na declaração de bens ao TSE - o patrimônio declarado é de R$ 14,4 milhões - são listadas 15 empresas.
Informações da Receita Federal apontam que pelo menos oito empreendimentos ausentes da declaração de patrimônio foram constituídos antes das eleições de 2010 e, portanto, deveriam ter sido informados ao TSE. É o caso de dois shopping centers: o Bouganville (Nove Administração e Participações), em Goiânia, e o Brasil Park (Brasil Park Participação e Investimentos), em Anápolis. Wilder aparece como o empreiteiro responsável pelos centros de compra desde as respectivas inaugurações, em 2006 e 2007. Nem os nomes das duas empresas nem o CNPJ delas aparecem na declaração ao TSE, mas apenas a Orca Construtora, que fez parte dos investimentos nos shopping centers.
Também ficaram fora da prestação de contas de Wilder Morais três empresas de prestação de serviços funerários, duas delas constituídas antes de 2010 (uma em 2004 e outra em 1995). Neste ano, o primeiro suplente passou a ser sócio de um cemitério em Goiânia. Wilder é dono ainda de empresas do ramo agropecuário, de fabricação de estruturas metálicas, loteamento, incorporação de imóveis, estacionamento e consultoria em gestão empresarial, boa parte delas ausente da declaração apresentada ao TSE. 

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