Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
41% das casas no PR não têm calçamento

41% das casas no PR não têm calçamento
Publicado em 09/07/2012 | Raphael Marchiori, especial para a Gazeta do Povo
Imagine-se
morando em uma casa cuja rua é escura e não tem asfalto, calçada,
meio-fio, boca de lobo, árvores e sequer um nome. Essa é a realidade de
milhares de domicílios paranaenses e foi apontada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na pesquisa do entorno dos
domicílios do Censo Demográfico 2010, divulgada no fim do último mês de
maio.
De acordo com o levantamento, mais de 14
milhões de paranaenses não têm em sua rua pelo menos um dos indicadores
pesquisados pelos técnicos do IBGE. No Paraná, no topo dos problemas,
está a ausência de calçadas e meio-fio, que superam a média brasileira.
No total, 41% das casas paranaenses não estão atrás de passeios públicos
ante 31% da média nacional e 25% não têm a famosa sarjeta contra 22% do
país.
Sem estrutura
Cidades carecem de asfalto, meio-fio, rampa de acesso e árvoresAs prefeituras da maioria dos municípios que estão no topo dos problemas urbanísticos apontadas pelo levantamento do IBGE reconheceram os problemas, mas afirmaram que trabalham em projetos para melhorar o entorno dos domicílios. Porém, a população dessas cidades ainda têm de encarar muitas dificuldades.
Quem vive em Diamante do Sul e Santa Maria do Oeste, por exemplo, tem de dividir espaço nas ruas com carros, motos e todo tipo de meio de transporte. Isso porque 95% das casas dos dois municípios não têm calçadas e 88% não têm meio-fio. Nos dois casos, as prefeituras informaram que já têm projetos em andamento, mas não estipularam prazos para conclusão.
Mas pior do que não ter meio-fio ou calçada é morar em rua não-pavimentada, realidade de 88% das casas de Doutor Ulysses (região metropolitana de Curitiba) em 2010. “Essa infelizmente ainda é nossa realidade. Estamos tentando recursos com o PAC 2, mas só para depois das eleições”, diz José Bitencourt, assessor da prefeitura.
Em Campina do Simão (centro-sul) o que falta são árvores dentro da cidade. Questionados se a rua em que moravam era arborizada, apenas três moradores responderam de forma positiva. Segundo Sérgio Bortolanza, técnico da prefeitura, a cidade já é rodeada de área verde e a falta de árvores nas ruas é culpa da população. “O povo arranca tudo”, disse.
A ausência de vegetação, porém, não atinge só os municípios menores. Em Curitiba, cidade que ganhou o título de capital ecológica do país, moradores de 23% das casas disseram não ter árvores em suas ruas. Ponta Grossa lidera o ranking das maiores cidades do estado no quesito falta de acessibilidade, com 96% da população afirmando não ter rampas de acesso em calçadas.
Apesar de perder para a média nacional em apenas dois
indicadores, nos outros oito a situação paranaense não é animadora. Mais
de 277 mil casas (33% da população) estão em ruas sem nome e quase um
milhão (35%) não têm boca de lobo, equipamento essencial para escoar a
água das chuvas. Além disso, 481.688 lares estão em ruas sem
pavimentação, 89.811 não têm iluminação pública e mais de 600 mil não
contam sequer com uma árvore no logradouro.
Ainda de acordo com o IBGE, se não bastassem esses problemas, 122 mil
casas (4,4%) ainda convivem com esgoto a céu aberto, quase a mesma
quantidade das que estão em ruas com lixo espalhado, indicativo de que a
coleta de lixo não é satisfatória. No país inteiro, 11,8% dos
domicílios estão próximos a esgoto a céu aberto e 5,8% ao lixo.
Segundo Dalea Antunes, pesquisadora do IBGE, os indicadores de
circulação são os que mais afetam as cidades pequenas do interior. “Em
municípios com até 20 mil habitantes, onde a circulação é menor, o
porcentual de presença desses indicadores era de apenas 40%”.
Melhor do Sul
Dalea ressalta que o Paraná é o melhor estado da Região Sul em seis
dos dez indicadores pesquisados, mas lembra que há problemas
localizados, principalmente em cidades cuja população tem menor poder
aquisitivo. Na pequena Santana do Iraré, onde 43% da população ganha até
meio salário mínimo, 58% dos domicílios convivem com esgoto a céu
aberto.
Já em Antonina, moradores de 2,3 mil domicílios, metade da cidade,
disseram viver em ruas que têm lixo espalhado, indicativo de
ineficiência da coleta seletiva. No município, 36% da população ganha
até meio salário mínimo.
De acordo com Carlos Hardt, diretor do curso de Arquitetura e
Urbanismo da PUCPR, os dados do IBGE mostram que as piores estruturas
urbanas, de modo geral, estão em municípios pequenos e com baixa
capacidade de investimento. O urbanista ressalta, porém, que há exceções
e que a falta de recursos não pode ser utilizada como desculpa para
todos os casos.
“A gestão municipal tem de ter competência para aplicar o pouco
recurso que tem de forma adequada. Bastam bons projetos para serem
captados”, argumenta Hardt.
Governo fez repasse de R$ 73 milhões para recapeamento de vias
O governo do Paraná afirma ter repassado R$ 402 milhões aos 399
municípios paranaenses nos últimos 18 meses. Boa parte dessa verba foi
financiada via Serviço Social Autônomo ParanaCidade e Secretaria do
Desenvolvimento Urbano (Sedu), que conta com recursos do Fundo de
Desenvolvimento Urbano.
Segundo a Sedu, R$ 284,6 milhões foram disponibilizados pelo
ParanaCidade para construir, entre outros, escolas, postos de saúde e
hospitais. “Mas a maior quantidade de recursos foi liberada para
pavimentação”, disse o secretário Cezar Silvestre. A fundo perdido, a
pasta diz ter repassado R$ 73 milhões para 261 municípios recapearem
suas vias.
A pasta afirmou ainda que, em parceria com o ParanaCidade,
disponibilizou R$ 45 milhões para compra de equipamentos rodoviários e
recuperação de vias urbanas.
A destinação desses recursos é posterior ao levantamento do IBGE e,
portanto, seu reflexo ainda não pode ser mensurado. O governo afirma que
os números apresentados são os maiores dos últimos dez anos e que deve
investir mais R$ 600 milhões nos próximos 18 meses.

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